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sexta-feira, 25 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Geoconservação
Constituído pelos elementos
notáveis da geodiversidade, o património geológico é um recurso natural, não
renovável, cujo conhecimento sistemático é ainda escasso na maior parte dos
países, com graves consequências para a sua conservação e gestão. A
identificação do património geológico deve obedecer, antes de mais, a critérios
científicos. Neste sentido, tem que ser a comunidade geológica de cada país a
definir, por consenso, os temas ou categorias mais relevantes da geodiversidade
nacional, do qual é exemplo a Carta de Geossítios da Ilha de Santa Maria,
criada pela Universidade dos Açores, tendo sido a base de fundamento da seleção
dos 5 Geossítios prioritários marienses que incluem o GeoParque Açores.
O Património geológico tem outros
tipos de interesses, para além do científico, que não podem ser negligenciados.
O interesse pedagógico é crucial para a sensibilização e formação de alunos e
professores de todos os níveis de ensino. O interesse turístico, importante na
promoção da geologia junto do público não especialista, pode contribuir para o
desenvolvimento sustentado das populações locais. A experiência dos Geoparques
em diversos países, com o reconhecimento da UNESCO, tem demonstrado que o
património geológico pode ser o motor para o bem-estar social e para a promoção
da geologia.
Geoconservação é entendida como o
conjunto das iniciativas que vão desde a inventariação e caracterização do
património geológico, passando pela sua conservação e gestão, de modo a
assegurar um uso adequado dos geossítios, quer ele seja de índole científico,
educativo, turístico, ou outro. O património geológico corresponde ao conjunto
das ocorrências de elementos da geodiversidade com excecional valor: os
geossítios, também conhecidos vulgarmente por geomonumentos, quando estes
apresentam uma particular monumentalidade/grandiosidade. O facto de se atribuir
ao património geológico um conjunto alargado de valores e, simultaneamente, de
ameaças, justifica a necessidade de implementação de medidas que salvaguardem a
sua conservação, constituindo um importante legado para as gerações vindouras.
É frequentemente argumentado que não
há necessidade de geoconservação, porque as caraterísticas da terrestres são
geralmente robustas. Este não é, no entanto, o caso comum. Importantes
exposições geológicas como delicados fósseis ou raras jazidas de minerais raros
são facilmente destruídos por escavações desadequadas ou colecionismo
descontrolado.
Processos de formação contínuos, como
por exemplo sistemas em grutas e rios, podem ser facilmente degradados por distúrbios
inapropriados nas suas áreas de captação de águas. Antigas dunas de areia podem
ser “sopradas” em seguimento de distúrbios na sua fina camada estabilizada de
solo causada por cortes de vegetação, utilização de viaturas e fogo. As
turfeiras podem ser completamente devastadas por uma queimada. Estes exemplos
são apenas a ponta do icebergue. De facto, a geoconservação lida frequentemente
com relíquias ou caraterísticas fósseis que já não estão em formação, e nas
quais, qualquer degradação é permanente e insustentável. Há uma muito boa razão
de implementar a geoconservação ativa, discutivelmente maior que a
bioconservação, na qual os seus elementos poderão “re-nascer” ou se “re-formar”.
Fontes:
BRILHA, J., Bases
para uma estratégia de geoconservação; Congresso Brasileiro de Geologia,
18, Aracaju, 2006 - " Congresso Brasileiro de Geologia". [S.l. : s.
n., 2006]. In http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5683/1/brasil.pdf;
consultado a 14-05-2012
BRILHA, J. & CARVALHO, A.; Geoconservação em
Portugal : uma introdução; NEIVA, J. M.
Cotelo [et al.], ed. lit. – “Geologia aplicada”. [S.l.] : Associação Portuguesa
de Geólogos, 2010. (Ciências geológicas : ensino, investigação e sua história ;
vol. 2). p. 435-441. In http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10572/1/Brilha_Carvalho_2010.pdf
consultado a 14-05-2012
SHARPLES, C.; Concepts and Principles of Geoconservation; Published
electronically on the Tasmanian Parks & Wildlife Service website; September
2002; (Version 3)
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Geodiversidade; geoconservação e Património geológico
Geodiversidade: A utilização do termo
geodiversidade é relativamente recente: o termo surgiu por ocasião da
Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada em
1993 no Reino Unido. Portanto, compreende-se que tanto o termo como o conceito
de geodiversidade não apresentem ainda uma implementação sólida.
Contudo, poderemos considerar a
definição proposta pela Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido:
“A Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e
processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e
outro depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.”
Sedimentos Calcários muito ricos em fósseis marinhos - Pedra que Pica - Santa Maria - Açores
Assim, a geodiversidade
compreende apenas aspetos não vivos do nosso planeta. E não apenas os
testemunhos provenientes de um passado geológico, mas também os processos
naturais que atualmente decorrem dando origem a novos testemunhos.
Segundo Nunes, Lima e Medeiros
(2007) o termo geodiversidade pode ser definido como a amplitude natural
(diversidade) de caraterísticas geológicas (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicas
(paisagens, processos) e do solo. Inclui as suas associações, relações,
propriedades, interpretações e sistemas.
A geodiversidade consiste assim,
na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem
a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que
são o suporte para a via na Terra. Em suma, a geodiversidade inclui todos os
elementos não vivos do Planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica.
Geoconservação: Para considerar a necessidade de
conservação da geodiversidade há que refletir sobre o valor que a
geodiversidade possui. Efetivamente podem ser apontadas várias categorias nas
quais se pode atribuir valor à geodiversidade, nomeadamente:
·
Valor intrínseco;
·
Valor cultural: relação entre o desenvolvimento
social, cultural e/ou religioso e o meio físico que o rodeia;
·
Valor estético / paisagístico.
·
Valor económico: produção de energia, matéria
prima para diversos fins, construção civil, águas subterrâneas, joalharia, etc.
·
Valor funcional: a geodiversidade demonstra-se
útil e funcional para diversos fins;
·
Valor educativo e científico;
De que modo está a geodiversidade
sob ameaça? Porquê considerar a sua conservação?
À semelhança da biodiversidade as
principais ameaças à sua conservação são de origem antropogénica. Contudo, há
que encontrar um equilíbrio entre a exploração da geodiversidade e a sua
conservação, dado que a subsistência da espécie humana depende em muito aspetos
da geodiversidade. As principais ameaças à geodiversidade são:
·
A exploração de recursos geológicos principalmente
através da alteração da paisagem e através da destruição de elementos com elevado
valor cientifico, educativo ou outro. Contudo, pode ainda interferir com o
decurso de processos naturais, quando interfere por exemplo com leitos de
cursos de água e zonas costeiras. Porém, são várias as situações em que os
trabalhos de extração de inertes colocam a descoberto elementos de elevado
valor estético, cientifico e educativo, de que é exemplo a Pedreira do Campo na
ilha de Santa Maria, onde a exploração geológica colocou a nu uma parede de
pillow lavas sobre uma camada de sedimentos calcários, ricos em conteúdo fossilífero.
Pillow lavas (lavas submarinas) muito acima do nível médio das águas do mar atualmente.
Pedreira do Campo - Santa Maria - Açores
·
Desenvolvimento de obras e estruturas: pela
alteração da paisagem, pela ocupação dos solos, pelas modificações induzidas mo
clima local e consequente fauna e flora, pela interferência ao nível das águas
subterrâneas e superficiais.
·
Obras para gestão de bacias hidrográficas, como
barragens, diques e canais que alteram o natural curso das águas e prejudicando
tanto a geodiversidade como a biodiversidade.
·
Florestação, desflorestação e agricultura que
podem encobrir determinados valores geológicos, erodir solos e contaminar solos
e águas superficiais e subterrâneas, respetivamente.
·
Atividades militares
·
Atividades lúdicas e turísticas em áreas
sensíveis.
·
Colheita de amostras geológicas para propósitos
não científicos.
·
Iliteracia cultural, desconhecimento dos valores
da geodiversidade.
O que é então a Geoconservação? Segundo
Sharples (2002) “A Geoconservação tem como objetivo a preservação da
diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspetos e processos
geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo,
mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e
processos.”
A Geoconservação tem como
objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando
todo o tipo de recursos geológicos. Entende apenas a conservação de certos
elementos da geodiversidade que evidenciem um qualquer tipo de valor. Pretende
estabelecer estratégias que garantam a gestão sustentada dos recursos
geológicos, assegurando as técnicas de exploração.
A implementação de estratégias
que permitam a conservação de elementos geológicos que possuem inegável valor
científico, pedagógico, cultural, ou outros – os geossítios – é denominado Património
Geológico. Este é definido como o conjunto de geossítios
inventariados e caraterizados numa dada área ou região. Galopim de Carvalho
(1998) define geossítios, ou geomonumento, como uma ocorrência geológica com um
valor documental no estabelecimento da história da Terra, com características
de monumentalidade, grandiosidade, raridade, beleza, etc.”
Camadas estratigráficas - Ponta do Castelo - Santa Maria - Açores
Em suma: Os três termos são
indissociáveis e complementares. A Geodiversidade tem um valor inegável, e
sendo um recurso não há renovável, há que considerar meios de a explorar de
modo sustentável, pois precisamos dos recursos geológico para nossa
subsistência, mas temos que garantir que as próximas gerações tenham acesso a
estes recursos. Contudo há locais cujo valor é tão elevado, do ponto de vista
educativo e científico que deverão ser preservados de modo a que se mantenham
as suas características específicas, classificando-os como Património Geológico.
Fontes:
BRILHA, J., Patrímónio Geológico e Geoconservação - A Conservação da Natureza na sua vertente geológica, Palimage Editores, 2005
NUNES, J., LIMA, E., MEDEIROS, S., Os Açores, Ilhas de Geodiversidade - Contributos da Ilha de Santa Maria, Universidade dos Açores, 2007
Ribeira do Maloás - Santa Maria - Açores
A Ribeira do Maloás, corre sobre fundo de basalto e apresenta uma pequena queda de água sobre uma parede que ostenta uma das mais belas formações com que a atividade vulcânica presenteou a ilha de Santa Maria: uma disjunção prismática ou colunar. A formação de disjunção colunar em rochas vulcânicas é um assunto que suscita alguma controvérsia, em especial no que diz respeito à sua génese e desenvolvimento da morfologia. Porém, parece ser consensual que a causa da disjunção colunar se relaciona com a contração térmica da lava provocada pelo seu arrefecimento.
A disjunção prismática da Ribeira de Maloás é também um geossítio prioritário do Geoparque Açores e tem sido eleito como local ideal para iniciantes na prática de canyoning, permitindo captar imagens extraordinárias!
Fontes: BRILHA, J, SEQUEIRA, M.,PROUST, D., DUDOIGNON, P. (1998) "A disjunção colunar na Chaminé vulcânica de Penedo de Lexim (Complexo Vulcânico de Lisboa) - Morfologia e Génese". Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, tomo 84, fasc. 1, B164-B167
http://canyoningdesnivel.blogspot.pt/2009/05/canyoning-ni-santa-maria.html
http://canyoningdesnivel.blogspot.pt/2009/05/canyoning-ni-santa-maria.html
terça-feira, 1 de maio de 2012
Geodiversidade da ilha de Santa Maria - Barreiro da Faneca
O Barreiro da Faneca é apontado como um dos geossitios prioritários do Geoparque Açores para a ilha de Santa Maria.
Corresponde ao vulcanismo mais recente da ilha, ocorrido há cerca de 4 milhões de anos atrás, e é composto por piroclastos oriundos de erupções explosivas, que se trasnformaram, oxidaram, sujeitos a um clima extremamente quente e húmido.
As suas dunas são causadas pela erosão hidrica e eólica e conferem a este local uma paisagem única na região, tendo sido por isso classificada com Área de Paisagem Protegida pelo Parque Natural de Santa Maria (DLR 47/2008/A). Tornou-se, portanto, património geológico.
sábado, 14 de abril de 2012
Ameaças à Biodiversidade
Verificado
o valor da Biodiversidade, há que refletir nas ameaças à sua continuidade.
São
muitos os fatores que contribuem para
a redução da biodiversidade na Terra.
A comunidade científica criou uma lista
de fatores que podem ser resumidos pela sigla "HIPPO”.
H= Habitat Destruction
(Destruição de habitats)
I= Introduced or invasive species
(espécies introduzidas ou invasoras)
P= Pollution (Poluição)
P= Population growth (aumento da
população)
O= Over consumption /
exploitation (Sobre exploração)
Destruição de habitats: Desde
o corte de florestas anciãs até à poluição que corre nos nossos cursos de água,
a atividade humana tem tido efeitos devastadores em muitos habitats em todo o
mundo. A destruição de habitats, conjuntamente com a introdução de espécies
invasoras, é considerada a maior ameaça à biodiversidade.
Espécies introduzidas invasoras:
Devido ao delicado equilíbrio da natureza, quando uma nova planta ou animal é
retirada do seu ambiente natural e introduzida num novo ecossistema, os efeitos
podem-se demonstrar drásticos. Algumas
espécies nativas podem ser dizimadas enquanto outras crescem exponencialmente,
devido à influência da espécie introduzida.
Por vezes os humanos introduzem
novas espécies num determinado ecossistema, por acidente, como é o caso do rato
doméstico e da lagartixa-da-madeira nos Açores, mas muitas vezes a introdução é
intencional, por razões diversas, demonstrando-se desastrosa. Exemplo disso é a
introdução de plantas ornamentais nos Açores, que se vieram a tornar invasoras,
ocupando o habitat das espécies endémicas e nativas, dificultando a sua
sobrevivência. Exemplo disso são a Lantana
camara e a Hedychium gardnerarum.
Lantana camara
Hedychium gardnerarum
Poluição: A poluição
oriunda da atividade humana, prejudica quer os habitats, quer as espécies,
dificultando o impossibilitando a vida no ecossistema alvo da poluição. A
poluição das águas prejudica a qualidade nos ecossistemas aquáticos, a poluição
dos oceanos leva à morte de animais por consumo de plástico à deriva, a
contaminação de solos impossibilita a subsistência de espécies vegetais, base
da cadeia alimentar, apenas mencionando alguns dos exemplos devastadores da
poluição nos ecossistemas.
Aumento da população: O
aumento da população significa uma maior área de ocupação, representando maior
destruição de áreas naturais, assim como aumento da exploração dos recursos
naturais. Uma incorreta gestão destes recursos significará a diminuição da
biodiversidade.
Sobre exploração: A
subsistência da população humana depende da exploração dos recursos naturais. A
pesca, caça, produções massivas de espécies alimentares causam desequilíbrios
nos ecossistemas que podem levar a drásticas reduções de populações das
espécies exploradas e mesmo à sua extinção.
Fontes:
http://your.kingcounty.gov/solidwaste/naturalconnections/hippo.htm
consultado a 14 de Abril de 2012.
sábado, 31 de março de 2012
O Valor da Biodiversidade
Hypericum foliosum - endémica dos Açores
Quando nos colocamos a questão: Qual o valor da Biodiversidade? imediatamente efetuamos deduções de cariz económico e financeiro. Ou seja, são óbvios alguns dos serviços que nos presta a biodiversidade, dado que nos fornece recursos naturais que nos são necessários. As pescas, a agricultura, a silvicultura, a extração de inertes dependem dos recursos que a natureza nos disponibiliza. Contudo, a biodiversidade presta um vasto leque de “serviços ecossistémicos” aos quais não damos o devido valor. Pensem nos insetos que polinizam as nossas culturas, nos solos que lhes servem de base e alimento, nos sistemas de raízes das árvores que sustêm terras e taludes e nas formações rochosas que limpam a nossa água, nos organismos que decompõem os nossos resíduos, nas zonas húmidas que purificam as nossas águas residuais e nas árvores que purificam o nosso ar. Pensem no valor da natureza, na sua beleza e na forma como a utilizamos para fins de lazer.
Estes são apenas alguns dos “serviço ecossistémicos” que tornam possível a vida na Terra. No entanto, perdemos a nossa ligação com muitos destes serviços básicos de suporte vital e raramente vemos o que realmente representam ou lhes damos o devido valor. Só por si, este facto tem enormes implicações para o nosso mundo natural.
A transformação de ecossistemas naturais em áreas destinadas à exploração antropogénica pode representar a curto prazo um benefício económico. Exemplo disso são as desflorestações e drenagens de zonas húmidas para transformação em terra de cultivo. Contudo, a médio e longo prazo, estas ações demonstram-se extremamente onerosas, dado o investimento necessário para combater os seus efeitos. Regra geral a transformação de ecossistemas naturais em áreas de exploração antropogénica favorece quem o transforma, mas acentua a pobreza dos que dependem do ecossistema.
“A Biodiversidade contribui diretamente (através de serviços de aprovisionamento, regulação, e ecossistémicos culturais) e indiretamente (através de serviços de suporte do ecossistema) para muitos constituintes do bem-estar humano, incluindo material de segurança, fundamental para uma boa vida, saúde, boas relações sociais, e a liberdade de escolha e ação. Muitas pessoas foram beneficiadas durante o último século pela conversão de ecossistemas naturais para ecossistemas dominados pelo homem e pela exploração da biodiversidade. Ao mesmo tempo, no entanto, essas perdas de biodiversidade e mudanças nos seus serviços fizeram com que algumas pessoas diminuíssem o seu bem-estar, verificando-se mesmo a pobreza em alguns grupos sociais desfavorecidos.”
Infelizmente, tem-se verificado que a tomada de decisões políticas, reflete o impacte económico imediato, sem considerar os efeitos a longo prazo, das alterações efetuadas ao nível dos ecossistemas e da biodiversidade, a nível social e económico.
“Numa série de estudos já existentes sobre mudanças no valor económico associadas a mudanças na biodiversidade em locais específicos (como a conversão de mangais, drenagem de zonas húmidas, e claro, desflorestação), verifica-se que o custo económico total de conversão do ecossistema é significativo e, por vezes excede os benefícios da conversão do habitat. Apesar disso, em um número destes casos a conversão foi promovida porque o custo associado à perda de serviços do ecossistema não foi considerada, porque os ganhos particulares foram significativos (embora menos do que as perdas públicas), e por vezes também devido a perspetivas distorcida dos custos e benefícios relativos. Muitas vezes, a maioria dos habitantes locais foram marginalizados pelas mudanças.”
Urge perspetivar a biodiversidade, não como um stock de materiais, mas como um recurso holístico, composto por milhares de constituintes que interagem entre si e que nos beneficiam em diversos níveis: “A vida selvagem vale a pena conservar, porque é interessante, bonita, espetacular, ou porque contribui para paisagens que são interessantes, bonitas ou espetaculares. Animais e plantas selvagens servem de inspiração não só para os biólogos, mas também para milhões de naturalistas, exploradores, pintores, fotógrafos, escritores, poetas e músicos. Depois de Aldous Huxley ter lido “Silent Spring” de Rachel Carson, o seu comentário foi de que "estamos perdendo metade do objeto da poesia Inglesa "
“Desfrutar da vida selvagem está longe de ser restrito aos poetas, no entanto. De acordo com uma pesquisa realizada para o Fish and Wildlife Service EUA, 77 milhões de americanos participaram em atividades recreativas relacionadas com vida selvagem em 1996. Durante esse tempo, gastaram-se 108 mil milhões de dólares em comparação com apenas 81.000 milhões dólares gastos em carros. Preservar o ambiente é saudável para a economia, bem como para a alma.”
Fontes:
- http://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/artigos/uma-tapecaria-de-vida consultado a 31 de março de 2012;
- Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC., 2005
- Bryant, P., Biodiversity and Conservation
Estes são apenas alguns dos “serviço ecossistémicos” que tornam possível a vida na Terra. No entanto, perdemos a nossa ligação com muitos destes serviços básicos de suporte vital e raramente vemos o que realmente representam ou lhes damos o devido valor. Só por si, este facto tem enormes implicações para o nosso mundo natural.
A transformação de ecossistemas naturais em áreas destinadas à exploração antropogénica pode representar a curto prazo um benefício económico. Exemplo disso são as desflorestações e drenagens de zonas húmidas para transformação em terra de cultivo. Contudo, a médio e longo prazo, estas ações demonstram-se extremamente onerosas, dado o investimento necessário para combater os seus efeitos. Regra geral a transformação de ecossistemas naturais em áreas de exploração antropogénica favorece quem o transforma, mas acentua a pobreza dos que dependem do ecossistema.
“A Biodiversidade contribui diretamente (através de serviços de aprovisionamento, regulação, e ecossistémicos culturais) e indiretamente (através de serviços de suporte do ecossistema) para muitos constituintes do bem-estar humano, incluindo material de segurança, fundamental para uma boa vida, saúde, boas relações sociais, e a liberdade de escolha e ação. Muitas pessoas foram beneficiadas durante o último século pela conversão de ecossistemas naturais para ecossistemas dominados pelo homem e pela exploração da biodiversidade. Ao mesmo tempo, no entanto, essas perdas de biodiversidade e mudanças nos seus serviços fizeram com que algumas pessoas diminuíssem o seu bem-estar, verificando-se mesmo a pobreza em alguns grupos sociais desfavorecidos.”
Infelizmente, tem-se verificado que a tomada de decisões políticas, reflete o impacte económico imediato, sem considerar os efeitos a longo prazo, das alterações efetuadas ao nível dos ecossistemas e da biodiversidade, a nível social e económico.
“Numa série de estudos já existentes sobre mudanças no valor económico associadas a mudanças na biodiversidade em locais específicos (como a conversão de mangais, drenagem de zonas húmidas, e claro, desflorestação), verifica-se que o custo económico total de conversão do ecossistema é significativo e, por vezes excede os benefícios da conversão do habitat. Apesar disso, em um número destes casos a conversão foi promovida porque o custo associado à perda de serviços do ecossistema não foi considerada, porque os ganhos particulares foram significativos (embora menos do que as perdas públicas), e por vezes também devido a perspetivas distorcida dos custos e benefícios relativos. Muitas vezes, a maioria dos habitantes locais foram marginalizados pelas mudanças.”
Urge perspetivar a biodiversidade, não como um stock de materiais, mas como um recurso holístico, composto por milhares de constituintes que interagem entre si e que nos beneficiam em diversos níveis: “A vida selvagem vale a pena conservar, porque é interessante, bonita, espetacular, ou porque contribui para paisagens que são interessantes, bonitas ou espetaculares. Animais e plantas selvagens servem de inspiração não só para os biólogos, mas também para milhões de naturalistas, exploradores, pintores, fotógrafos, escritores, poetas e músicos. Depois de Aldous Huxley ter lido “Silent Spring” de Rachel Carson, o seu comentário foi de que "estamos perdendo metade do objeto da poesia Inglesa "
“Desfrutar da vida selvagem está longe de ser restrito aos poetas, no entanto. De acordo com uma pesquisa realizada para o Fish and Wildlife Service EUA, 77 milhões de americanos participaram em atividades recreativas relacionadas com vida selvagem em 1996. Durante esse tempo, gastaram-se 108 mil milhões de dólares em comparação com apenas 81.000 milhões dólares gastos em carros. Preservar o ambiente é saudável para a economia, bem como para a alma.”
Fontes:
- http://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/artigos/uma-tapecaria-de-vida consultado a 31 de março de 2012;
- Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC., 2005
- Bryant, P., Biodiversity and Conservation
quinta-feira, 29 de março de 2012
O que é a Biodiversidade?
Qual o sentido da palavra Biodiversidade?
Decompondo a palavra:
Bio = Vida + Diversidade} Diversidade de Vida
Segundo a Agência Europeia de Ambiente "A biodiversidade engloba a variedade de genes, espécies e ecossistemas que constituem a vida no planeta."
A Agência Portuguesa de Ambiente define a biodiversidade como "a variedade e a variabilidade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comunidade, espécies, populações e genes em uma área definida. A biodiversidade varia com as diferentes regiões ecológicas, sendo maior nas regiões tropicais do que nos climas temperados.
Refere-se à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de microorganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, habitats e ecossistemas formados pelos organismos.
A Biodiversidade refere-se tanto ao número (riqueza) de diferentes categorias biológicas quanto à abundância relativa (equidade) dessas categorias. E inclui variabilidade ao nível local (alfa diversidade), complementaridade biológica entre habitats (beta diversidade) e variabilidade entre paisagens (gama diversidade). Ela inclui, assim, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos genéticos, e seus componentes."
O que é certo é que não há uma definição completamente consensual de biodiversidade. O seu conceito varia dependendo de quem a utiliza e em que contexto. "Um dos problemas associados aos processos de avaliação da biodiversidade é o fato de o termo ser entendido de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que o interpreta." (Araújo, 1998)
A biodiversidade pode ser concebida como um conceito, uma entidade mensurável ou uma preocupação com a redução de vida.
A complexidade de conceptualização de biodiversidade compreende-se na síntese da biodiversidade, Millenium Ecosystem Assessment: “Biodiversidade é definida como "a variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; compreende a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas." A importância desta definição é que chama a atenção para as muitas dimensões da biodiversidade. Reconhece explicitamente que cada biota pode ser caracterizado pela sua taxonomia, ecologia, e diversidade genética e que a forma como essas dimensões da diversidade variam ao longo do espaço e do tempo é uma característica fundamental da biodiversidade. Assim, apenas uma avaliação multidimensional da biodiversidade pode fornecer perspetivas sobre a relação entre alterações na biodiversidade e mudanças no funcionamento dos ecossistemas e dos serviços ecossistémicos.”
Wilson considera que a biodiversidade deve ser encarada como um recurso global, para que possa ser catalogada, usada e acima de tudo preservada.
Ou seja, à que perspetivar a biodiversidade como algo de valor, necessário à humanidade, para que se consiga mobilizar nações e cidadãos em prol da sua conservação.
Fontes:
- Araújo, M., Avaliação da Biodiversidade em conservação, Silva Lusitana 6(1). 19-40, 1998, EFN, Lisboa
- Lovejoy, T., Biodiversity: What is it?
- Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC., 2005
- Wilson, E., The current state of biological diversity
- http://www.eea.europa.eu/pt/themes/biodiversity consultado a 27 de Março de 2012
http://portaldoambiente.apambiente.pt:8080/maissobre/ConservacaoNaturaza/Paginas/Biodiversidade.aspx consultado a 27 de Março de 2012
sábado, 17 de março de 2012
Nasceu um blog...
Nasceu um blog! Este nasceu a pedido. No âmbito do mestrado de Cidadania Ambiental e Participação, mais especificamente na unidade curricular de Biodiversidade, Geodiversidade e Conservação, foi solicitado aos mestrandos a criação de um blog para servir de local de reflexão e partilha de ideias sobre os temas leccionados na disciplina.
Ora, sendo eu natural de uma das mais pequenas ilhas dos Açores, é um privilégio debater e aprender sobre um tema como este! Isto porque, os Açores, tendo esta separação imensa de mar entre nós e a terra mais próxima, tem particularidades e especificidades ao nível da sua biodiversidade notáveis! Endemismos ao nível da flora e da fauna tornam uma saída de campo, uma descoberta!
Somos também riquissimos no que toca à nossa geodiversidade: ilhas vulcânicas, com marcas de vulcanismo recente em dversas ilhas. A ilha em que resido é ainda mais particular. Santa Maria é geologicamente, a ilha mais antiga do arquipélago, com cerca de mais de 4 milhões de anos que as que se sucederam. É portanto, a única ilha da região onde é possível observar sedimentos com fósseis de animais marinhos. Nas costas da ilha, através da sua estratigrafia, lê-se a história da sua formação.
Aguardo ansiosamente pelos ensinamentos que me serão transmitidos e espero sinceramente poder aplicá-los no que observo diariamente à minha volta!
Ora, sendo eu natural de uma das mais pequenas ilhas dos Açores, é um privilégio debater e aprender sobre um tema como este! Isto porque, os Açores, tendo esta separação imensa de mar entre nós e a terra mais próxima, tem particularidades e especificidades ao nível da sua biodiversidade notáveis! Endemismos ao nível da flora e da fauna tornam uma saída de campo, uma descoberta!
Somos também riquissimos no que toca à nossa geodiversidade: ilhas vulcânicas, com marcas de vulcanismo recente em dversas ilhas. A ilha em que resido é ainda mais particular. Santa Maria é geologicamente, a ilha mais antiga do arquipélago, com cerca de mais de 4 milhões de anos que as que se sucederam. É portanto, a única ilha da região onde é possível observar sedimentos com fósseis de animais marinhos. Nas costas da ilha, através da sua estratigrafia, lê-se a história da sua formação.
Aguardo ansiosamente pelos ensinamentos que me serão transmitidos e espero sinceramente poder aplicá-los no que observo diariamente à minha volta!
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