Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Geoconservação

Constituído pelos elementos notáveis da geodiversidade, o património geológico é um recurso natural, não renovável, cujo conhecimento sistemático é ainda escasso na maior parte dos países, com graves consequências para a sua conservação e gestão. A identificação do património geológico deve obedecer, antes de mais, a critérios científicos. Neste sentido, tem que ser a comunidade geológica de cada país a definir, por consenso, os temas ou categorias mais relevantes da geodiversidade nacional, do qual é exemplo a Carta de Geossítios da Ilha de Santa Maria, criada pela Universidade dos Açores, tendo sido a base de fundamento da seleção dos 5 Geossítios prioritários marienses que incluem o GeoParque Açores.

O Património geológico tem outros tipos de interesses, para além do científico, que não podem ser negligenciados. O interesse pedagógico é crucial para a sensibilização e formação de alunos e professores de todos os níveis de ensino. O interesse turístico, importante na promoção da geologia junto do público não especialista, pode contribuir para o desenvolvimento sustentado das populações locais. A experiência dos Geoparques em diversos países, com o reconhecimento da UNESCO, tem demonstrado que o património geológico pode ser o motor para o bem-estar social e para a promoção da geologia.
Geoconservação é entendida como o conjunto das iniciativas que vão desde a inventariação e caracterização do património geológico, passando pela sua conservação e gestão, de modo a assegurar um uso adequado dos geossítios, quer ele seja de índole científico, educativo, turístico, ou outro. O património geológico corresponde ao conjunto das ocorrências de elementos da geodiversidade com excecional valor: os geossítios, também conhecidos vulgarmente por geomonumentos, quando estes apresentam uma particular monumentalidade/grandiosidade. O facto de se atribuir ao património geológico um conjunto alargado de valores e, simultaneamente, de ameaças, justifica a necessidade de implementação de medidas que salvaguardem a sua conservação, constituindo um importante legado para as gerações vindouras.
É frequentemente argumentado que não há necessidade de geoconservação, porque as caraterísticas da terrestres são geralmente robustas. Este não é, no entanto, o caso comum. Importantes exposições geológicas como delicados fósseis ou raras jazidas de minerais raros são facilmente destruídos por escavações desadequadas ou colecionismo descontrolado.
Processos de formação contínuos, como por exemplo sistemas em grutas e rios, podem ser facilmente degradados por distúrbios inapropriados nas suas áreas de captação de águas. Antigas dunas de areia podem ser “sopradas” em seguimento de distúrbios na sua fina camada estabilizada de solo causada por cortes de vegetação, utilização de viaturas e fogo. As turfeiras podem ser completamente devastadas por uma queimada. Estes exemplos são apenas a ponta do icebergue. De facto, a geoconservação lida frequentemente com relíquias ou caraterísticas fósseis que já não estão em formação, e nas quais, qualquer degradação é permanente e insustentável. Há uma muito boa razão de implementar a geoconservação ativa, discutivelmente maior que a bioconservação, na qual os seus elementos poderão “re-nascer” ou se “re-formar”.

Fontes:

BRILHA, J., Bases para uma estratégia de geoconservação; Congresso Brasileiro de Geologia, 18, Aracaju, 2006 - " Congresso Brasileiro de Geologia". [S.l. : s. n., 2006]. In http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5683/1/brasil.pdf; consultado a 14-05-2012

BRILHA, J. & CARVALHO, A.; Geoconservação em Portugal : uma introdução; NEIVA, J. M. Cotelo [et al.], ed. lit. – “Geologia aplicada”. [S.l.] : Associação Portuguesa de Geólogos, 2010. (Ciências geológicas : ensino, investigação e sua história ; vol. 2). p. 435-441. In http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10572/1/Brilha_Carvalho_2010.pdf consultado a 14-05-2012

SHARPLES, C.; Concepts and Principles of Geoconservation;  Published electronically on the Tasmanian Parks & Wildlife Service website; September 2002; (Version 3)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Geodiversidade; geoconservação e Património geológico

Geodiversidade: A utilização do termo geodiversidade é relativamente recente: o termo surgiu por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada em 1993 no Reino Unido. Portanto, compreende-se que tanto o termo como o conceito de geodiversidade não apresentem ainda uma implementação sólida.

Contudo, poderemos considerar a definição proposta pela Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido: “A Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outro depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.” 
Sedimentos Calcários muito ricos em fósseis marinhos - Pedra que Pica - Santa Maria - Açores

Assim, a geodiversidade compreende apenas aspetos não vivos do nosso planeta. E não apenas os testemunhos provenientes de um passado geológico, mas também os processos naturais que atualmente decorrem dando origem a novos testemunhos.
Segundo Nunes, Lima e Medeiros (2007) o termo geodiversidade pode ser definido como a amplitude natural (diversidade) de caraterísticas geológicas (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicas (paisagens, processos) e do solo. Inclui as suas associações, relações, propriedades, interpretações e sistemas.
A geodiversidade consiste assim, na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a via na Terra. Em suma, a geodiversidade inclui todos os elementos não vivos do Planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica.

Geoconservação: Para considerar a necessidade de conservação da geodiversidade há que refletir sobre o valor que a geodiversidade possui. Efetivamente podem ser apontadas várias categorias nas quais se pode atribuir valor à geodiversidade, nomeadamente:
·         Valor intrínseco;
·         Valor cultural: relação entre o desenvolvimento social, cultural e/ou religioso e o meio físico que o rodeia;
·         Valor estético / paisagístico.
·         Valor económico: produção de energia, matéria prima para diversos fins, construção civil, águas subterrâneas, joalharia, etc.
·         Valor funcional: a geodiversidade demonstra-se útil e funcional para diversos fins;
·         Valor educativo e científico;
De que modo está a geodiversidade sob ameaça? Porquê considerar a sua conservação?
À semelhança da biodiversidade as principais ameaças à sua conservação são de origem antropogénica. Contudo, há que encontrar um equilíbrio entre a exploração da geodiversidade e a sua conservação, dado que a subsistência da espécie humana depende em muito aspetos da geodiversidade. As principais ameaças à geodiversidade são:
·         A exploração de recursos geológicos principalmente através da alteração da paisagem e através da destruição de elementos com elevado valor cientifico, educativo ou outro. Contudo, pode ainda interferir com o decurso de processos naturais, quando interfere por exemplo com leitos de cursos de água e zonas costeiras. Porém, são várias as situações em que os trabalhos de extração de inertes colocam a descoberto elementos de elevado valor estético, cientifico e educativo, de que é exemplo a Pedreira do Campo na ilha de Santa Maria, onde a exploração geológica colocou a nu uma parede de pillow lavas sobre uma camada de sedimentos calcários, ricos em conteúdo fossilífero.
Pillow lavas (lavas submarinas) muito acima do nível médio das águas do mar atualmente.
Pedreira do Campo - Santa Maria - Açores

·         Desenvolvimento de obras e estruturas: pela alteração da paisagem, pela ocupação dos solos, pelas modificações induzidas mo clima local e consequente fauna e flora, pela interferência ao nível das águas subterrâneas e superficiais.
·         Obras para gestão de bacias hidrográficas, como barragens, diques e canais que alteram o natural curso das águas e prejudicando tanto a geodiversidade como a biodiversidade.
·         Florestação, desflorestação e agricultura que podem encobrir determinados valores geológicos, erodir solos e contaminar solos e águas superficiais e subterrâneas, respetivamente.
·         Atividades militares
·         Atividades lúdicas e turísticas em áreas sensíveis.
·         Colheita de amostras geológicas para propósitos não científicos.
·         Iliteracia cultural, desconhecimento dos valores da geodiversidade.
O que é então a Geoconservação? Segundo Sharples (2002) “A Geoconservação tem como objetivo a preservação da diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspetos e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e processos.”
A Geoconservação tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos. Entende apenas a conservação de certos elementos da geodiversidade que evidenciem um qualquer tipo de valor. Pretende estabelecer estratégias que garantam a gestão sustentada dos recursos geológicos, assegurando as técnicas de exploração.
A implementação de estratégias que permitam a conservação de elementos geológicos que possuem inegável valor científico, pedagógico, cultural, ou outros – os geossítios – é denominado Património Geológico. Este é definido como o conjunto de geossítios inventariados e caraterizados numa dada área ou região. Galopim de Carvalho (1998) define geossítios, ou geomonumento, como uma ocorrência geológica com um valor documental no estabelecimento da história da Terra, com características de monumentalidade, grandiosidade, raridade, beleza, etc.”
Camadas estratigráficas - Ponta do Castelo - Santa Maria - Açores

Em suma: Os três termos são indissociáveis e complementares. A Geodiversidade tem um valor inegável, e sendo um recurso não há renovável, há que considerar meios de a explorar de modo sustentável, pois precisamos dos recursos geológico para nossa subsistência, mas temos que garantir que as próximas gerações tenham acesso a estes recursos. Contudo há locais cujo valor é tão elevado, do ponto de vista educativo e científico que deverão ser preservados de modo a que se mantenham as suas características específicas, classificando-os como Património Geológico.
Fontes:
BRILHA, J., Patrímónio Geológico e Geoconservação - A Conservação da Natureza na sua vertente geológica, Palimage Editores, 2005
NUNES, J., LIMA, E., MEDEIROS, S., Os Açores, Ilhas de Geodiversidade - Contributos da Ilha de Santa Maria, Universidade dos Açores, 2007

Ribeira do Maloás - Santa Maria - Açores



A Ribeira do Maloás, corre sobre fundo de basalto e apresenta uma pequena queda de água sobre uma parede que ostenta uma das mais belas formações com que a atividade vulcânica presenteou a ilha de Santa Maria: uma disjunção prismática ou colunar. A formação de disjunção colunar em rochas vulcânicas é um assunto que suscita alguma controvérsia, em especial no que diz respeito à sua génese e desenvolvimento da morfologia. Porém, parece ser consensual que a causa da disjunção colunar se  relaciona com a contração térmica da lava provocada pelo seu arrefecimento.
A disjunção prismática da Ribeira de Maloás é também um geossítio prioritário do Geoparque Açores e tem sido eleito como local ideal para iniciantes na prática de canyoning, permitindo captar imagens extraordinárias!
Fontes: BRILHA, J, SEQUEIRA, M.,PROUST, D., DUDOIGNON, P. (1998) "A disjunção colunar na Chaminé vulcânica de Penedo de Lexim (Complexo Vulcânico de Lisboa) - Morfologia e Génese". Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, tomo 84, fasc. 1, B164-B167
http://canyoningdesnivel.blogspot.pt/2009/05/canyoning-ni-santa-maria.html

terça-feira, 1 de maio de 2012

Geodiversidade da ilha de Santa Maria - Barreiro da Faneca



O Barreiro da Faneca é apontado como um dos geossitios prioritários do Geoparque Açores para a ilha de Santa Maria.
Corresponde ao vulcanismo mais recente da ilha, ocorrido há cerca de 4 milhões de anos atrás, e é composto por piroclastos oriundos de erupções explosivas, que se trasnformaram, oxidaram, sujeitos a um clima extremamente quente e húmido.
As suas dunas são causadas pela erosão hidrica e eólica e conferem a este local uma paisagem única na região, tendo sido por isso classificada com Área de Paisagem Protegida pelo Parque Natural de Santa Maria (DLR 47/2008/A). Tornou-se, portanto, património geológico.