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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Geodiversidade; geoconservação e Património geológico

Geodiversidade: A utilização do termo geodiversidade é relativamente recente: o termo surgiu por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada em 1993 no Reino Unido. Portanto, compreende-se que tanto o termo como o conceito de geodiversidade não apresentem ainda uma implementação sólida.

Contudo, poderemos considerar a definição proposta pela Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido: “A Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outro depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.” 
Sedimentos Calcários muito ricos em fósseis marinhos - Pedra que Pica - Santa Maria - Açores

Assim, a geodiversidade compreende apenas aspetos não vivos do nosso planeta. E não apenas os testemunhos provenientes de um passado geológico, mas também os processos naturais que atualmente decorrem dando origem a novos testemunhos.
Segundo Nunes, Lima e Medeiros (2007) o termo geodiversidade pode ser definido como a amplitude natural (diversidade) de caraterísticas geológicas (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicas (paisagens, processos) e do solo. Inclui as suas associações, relações, propriedades, interpretações e sistemas.
A geodiversidade consiste assim, na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a via na Terra. Em suma, a geodiversidade inclui todos os elementos não vivos do Planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica.

Geoconservação: Para considerar a necessidade de conservação da geodiversidade há que refletir sobre o valor que a geodiversidade possui. Efetivamente podem ser apontadas várias categorias nas quais se pode atribuir valor à geodiversidade, nomeadamente:
·         Valor intrínseco;
·         Valor cultural: relação entre o desenvolvimento social, cultural e/ou religioso e o meio físico que o rodeia;
·         Valor estético / paisagístico.
·         Valor económico: produção de energia, matéria prima para diversos fins, construção civil, águas subterrâneas, joalharia, etc.
·         Valor funcional: a geodiversidade demonstra-se útil e funcional para diversos fins;
·         Valor educativo e científico;
De que modo está a geodiversidade sob ameaça? Porquê considerar a sua conservação?
À semelhança da biodiversidade as principais ameaças à sua conservação são de origem antropogénica. Contudo, há que encontrar um equilíbrio entre a exploração da geodiversidade e a sua conservação, dado que a subsistência da espécie humana depende em muito aspetos da geodiversidade. As principais ameaças à geodiversidade são:
·         A exploração de recursos geológicos principalmente através da alteração da paisagem e através da destruição de elementos com elevado valor cientifico, educativo ou outro. Contudo, pode ainda interferir com o decurso de processos naturais, quando interfere por exemplo com leitos de cursos de água e zonas costeiras. Porém, são várias as situações em que os trabalhos de extração de inertes colocam a descoberto elementos de elevado valor estético, cientifico e educativo, de que é exemplo a Pedreira do Campo na ilha de Santa Maria, onde a exploração geológica colocou a nu uma parede de pillow lavas sobre uma camada de sedimentos calcários, ricos em conteúdo fossilífero.
Pillow lavas (lavas submarinas) muito acima do nível médio das águas do mar atualmente.
Pedreira do Campo - Santa Maria - Açores

·         Desenvolvimento de obras e estruturas: pela alteração da paisagem, pela ocupação dos solos, pelas modificações induzidas mo clima local e consequente fauna e flora, pela interferência ao nível das águas subterrâneas e superficiais.
·         Obras para gestão de bacias hidrográficas, como barragens, diques e canais que alteram o natural curso das águas e prejudicando tanto a geodiversidade como a biodiversidade.
·         Florestação, desflorestação e agricultura que podem encobrir determinados valores geológicos, erodir solos e contaminar solos e águas superficiais e subterrâneas, respetivamente.
·         Atividades militares
·         Atividades lúdicas e turísticas em áreas sensíveis.
·         Colheita de amostras geológicas para propósitos não científicos.
·         Iliteracia cultural, desconhecimento dos valores da geodiversidade.
O que é então a Geoconservação? Segundo Sharples (2002) “A Geoconservação tem como objetivo a preservação da diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspetos e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e processos.”
A Geoconservação tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos. Entende apenas a conservação de certos elementos da geodiversidade que evidenciem um qualquer tipo de valor. Pretende estabelecer estratégias que garantam a gestão sustentada dos recursos geológicos, assegurando as técnicas de exploração.
A implementação de estratégias que permitam a conservação de elementos geológicos que possuem inegável valor científico, pedagógico, cultural, ou outros – os geossítios – é denominado Património Geológico. Este é definido como o conjunto de geossítios inventariados e caraterizados numa dada área ou região. Galopim de Carvalho (1998) define geossítios, ou geomonumento, como uma ocorrência geológica com um valor documental no estabelecimento da história da Terra, com características de monumentalidade, grandiosidade, raridade, beleza, etc.”
Camadas estratigráficas - Ponta do Castelo - Santa Maria - Açores

Em suma: Os três termos são indissociáveis e complementares. A Geodiversidade tem um valor inegável, e sendo um recurso não há renovável, há que considerar meios de a explorar de modo sustentável, pois precisamos dos recursos geológico para nossa subsistência, mas temos que garantir que as próximas gerações tenham acesso a estes recursos. Contudo há locais cujo valor é tão elevado, do ponto de vista educativo e científico que deverão ser preservados de modo a que se mantenham as suas características específicas, classificando-os como Património Geológico.
Fontes:
BRILHA, J., Patrímónio Geológico e Geoconservação - A Conservação da Natureza na sua vertente geológica, Palimage Editores, 2005
NUNES, J., LIMA, E., MEDEIROS, S., Os Açores, Ilhas de Geodiversidade - Contributos da Ilha de Santa Maria, Universidade dos Açores, 2007

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