Geodiversidade: A utilização do termo
geodiversidade é relativamente recente: o termo surgiu por ocasião da
Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada em
1993 no Reino Unido. Portanto, compreende-se que tanto o termo como o conceito
de geodiversidade não apresentem ainda uma implementação sólida.
Contudo, poderemos considerar a
definição proposta pela Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido:
“A Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e
processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e
outro depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.”
Sedimentos Calcários muito ricos em fósseis marinhos - Pedra que Pica - Santa Maria - Açores
Assim, a geodiversidade
compreende apenas aspetos não vivos do nosso planeta. E não apenas os
testemunhos provenientes de um passado geológico, mas também os processos
naturais que atualmente decorrem dando origem a novos testemunhos.
Segundo Nunes, Lima e Medeiros
(2007) o termo geodiversidade pode ser definido como a amplitude natural
(diversidade) de caraterísticas geológicas (rochas, minerais e fósseis), geomorfológicas
(paisagens, processos) e do solo. Inclui as suas associações, relações,
propriedades, interpretações e sistemas.
A geodiversidade consiste assim,
na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem
a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que
são o suporte para a via na Terra. Em suma, a geodiversidade inclui todos os
elementos não vivos do Planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica.
Geoconservação: Para considerar a necessidade de
conservação da geodiversidade há que refletir sobre o valor que a
geodiversidade possui. Efetivamente podem ser apontadas várias categorias nas
quais se pode atribuir valor à geodiversidade, nomeadamente:
·
Valor intrínseco;
·
Valor cultural: relação entre o desenvolvimento
social, cultural e/ou religioso e o meio físico que o rodeia;
·
Valor estético / paisagístico.
·
Valor económico: produção de energia, matéria
prima para diversos fins, construção civil, águas subterrâneas, joalharia, etc.
·
Valor funcional: a geodiversidade demonstra-se
útil e funcional para diversos fins;
·
Valor educativo e científico;
De que modo está a geodiversidade
sob ameaça? Porquê considerar a sua conservação?
À semelhança da biodiversidade as
principais ameaças à sua conservação são de origem antropogénica. Contudo, há
que encontrar um equilíbrio entre a exploração da geodiversidade e a sua
conservação, dado que a subsistência da espécie humana depende em muito aspetos
da geodiversidade. As principais ameaças à geodiversidade são:
·
A exploração de recursos geológicos principalmente
através da alteração da paisagem e através da destruição de elementos com elevado
valor cientifico, educativo ou outro. Contudo, pode ainda interferir com o
decurso de processos naturais, quando interfere por exemplo com leitos de
cursos de água e zonas costeiras. Porém, são várias as situações em que os
trabalhos de extração de inertes colocam a descoberto elementos de elevado
valor estético, cientifico e educativo, de que é exemplo a Pedreira do Campo na
ilha de Santa Maria, onde a exploração geológica colocou a nu uma parede de
pillow lavas sobre uma camada de sedimentos calcários, ricos em conteúdo fossilífero.
Pillow lavas (lavas submarinas) muito acima do nível médio das águas do mar atualmente.
Pedreira do Campo - Santa Maria - Açores
·
Desenvolvimento de obras e estruturas: pela
alteração da paisagem, pela ocupação dos solos, pelas modificações induzidas mo
clima local e consequente fauna e flora, pela interferência ao nível das águas
subterrâneas e superficiais.
·
Obras para gestão de bacias hidrográficas, como
barragens, diques e canais que alteram o natural curso das águas e prejudicando
tanto a geodiversidade como a biodiversidade.
·
Florestação, desflorestação e agricultura que
podem encobrir determinados valores geológicos, erodir solos e contaminar solos
e águas superficiais e subterrâneas, respetivamente.
·
Atividades militares
·
Atividades lúdicas e turísticas em áreas
sensíveis.
·
Colheita de amostras geológicas para propósitos
não científicos.
·
Iliteracia cultural, desconhecimento dos valores
da geodiversidade.
O que é então a Geoconservação? Segundo
Sharples (2002) “A Geoconservação tem como objetivo a preservação da
diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspetos e processos
geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo,
mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e
processos.”
A Geoconservação tem como
objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando
todo o tipo de recursos geológicos. Entende apenas a conservação de certos
elementos da geodiversidade que evidenciem um qualquer tipo de valor. Pretende
estabelecer estratégias que garantam a gestão sustentada dos recursos
geológicos, assegurando as técnicas de exploração.
A implementação de estratégias
que permitam a conservação de elementos geológicos que possuem inegável valor
científico, pedagógico, cultural, ou outros – os geossítios – é denominado Património
Geológico. Este é definido como o conjunto de geossítios
inventariados e caraterizados numa dada área ou região. Galopim de Carvalho
(1998) define geossítios, ou geomonumento, como uma ocorrência geológica com um
valor documental no estabelecimento da história da Terra, com características
de monumentalidade, grandiosidade, raridade, beleza, etc.”
Camadas estratigráficas - Ponta do Castelo - Santa Maria - Açores
Em suma: Os três termos são
indissociáveis e complementares. A Geodiversidade tem um valor inegável, e
sendo um recurso não há renovável, há que considerar meios de a explorar de
modo sustentável, pois precisamos dos recursos geológico para nossa
subsistência, mas temos que garantir que as próximas gerações tenham acesso a
estes recursos. Contudo há locais cujo valor é tão elevado, do ponto de vista
educativo e científico que deverão ser preservados de modo a que se mantenham
as suas características específicas, classificando-os como Património Geológico.
Fontes:
BRILHA, J., Patrímónio Geológico e Geoconservação - A Conservação da Natureza na sua vertente geológica, Palimage Editores, 2005
NUNES, J., LIMA, E., MEDEIROS, S., Os Açores, Ilhas de Geodiversidade - Contributos da Ilha de Santa Maria, Universidade dos Açores, 2007
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